sexta-feira, 24 de junho de 2011

Forget it

Meu anjo, meu demónio. Meu tudo, meu nada. Quero te esquecer, mas ao mesmo tempo recordar.
Não sei como te caracterizar. Pela tua face, pelos teus olhos, pelo teu sorriso, diria que eras um anjo, enviado á Terra para me proteger e me encher o peito de felicidade. Mas pelo que me fizeste, e pelo que ainda me fazes quando vagueias no meu pensamento, mais pareces um demónio... 
Nunca me foste nada, nunca foste alguém a quem eu pudesse apelidar de amigo, por muito que me custasse. Mas por momentos, quase foste tudo para mim...
Recordar o quê? Nós não tivemos nenhuma historia para eu puder recordar. Então esquecer o quê? Não há nada para esqueçer se não tenho nada para recordar...

domingo, 19 de junho de 2011

Sickness

Ontem foi um dia especialmente difícil para mim pois fui ver o meu avô ao hospital...
Não gosto nada de ir ao hospital, cada porta aberta por onde eu olhava parecia dar entrada a um novo mundo de doenças e tristeza onde pessoas deitadas ou sentadas pareciam estar em constante sofrimento, um sofrimento que nenhum medicamento pode curar, a solidão.
Quando cheguei ao quarto do meu avô o meu coração caiu-me aos pés. Não conseguia reconhecer aquele senhor magro e de pele amarela que jazia imóvel sentado num cadeirão no meio do quarto. Ao entrar para o cumprimentar ele parecia também não me conseguir reconhecer quando olhou para mim com os seus olhos também cobertos de amarelo... Nós ficamos um pouco a falar com o meu avó  e eu fiquei, o que me pareceu uma eternidade, a tentar conter as lágrimas por o ver ali.
Quando nos fomos embora eu fui o ultimo a abandonar o quarto, quando o fiz olhei para trás, queria vê-lo outra vez, uma ultima vez antes de me ir embora. Ele estava como o vi ao entrar, triste, por estar assim, naquele lugar...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Parte I

Ele estava de partida, num comboio sem destino aparente. Pela janela da pequena carruagem onde viajava conseguia ver apenas a sombria luz da noite misturada com outros estranhos vultos. Entre os dedos da sua mão ele brincava com uma pequena carta que já lera dezenas de vezes desde que a sua viagem começara. Já sabia de cor todo o ser conteúdo, até já memorizara a fina caligrafaria a que esta fora escrita.
Quando deu por si tudo á sua volta desaparecera, agora o seu mundo era apenas uma mistura confusa de luzes, vultos e imagens que não lhe faziam sentido algum. Ele tentou fugir de tudo, mas não conseguia mover as pernas. Quando olhou para baixo reparou que o chão o estava a consumir. Ele tentou gritar por ajuda mas a sua voz falhou-lhe assim que abriu a boca para falar. Lentamente o seu corpo ia começando a desaparecer sem que ele pudesse fazer o que quer que fosse para o impedir. Membro a membro, o seu corpo ia começando a desaparecer sem que ele os pudesse voltar a mover. A sua cabeça foi a ultima coisa a afundar, pela sua boca começou a entrar uma areia quente que lhe queimou a garganta e o interior do nariz. Os seus olhos foram a ultima coisa a desaparecer. Através deles ainda conseguiu ver por uma ultima vez o estranho cenário que o circundava, até que finalmente os pequenos grãos de areia o começaram a cegar e o asfixiaram, até á morte.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Used

Fui usado contra a minha vontade por ti, como um velho pano rasgado usado para limpar as imundices do chão deitado para o lixo, sem sequer hesitar.
Eu sabia no que me ia meter, mas o meu coração falou mais alto e vendou-me os olhos para não ver o que realmente se passava a minha volta.
De uma maneira doentia não me importei no momento, só depois de tudo acabar é que eu pensei que tudo o que tinha feito estava errado e senti-me humilhado e envergonhado com as minhas acções...
Sinto-me como um idiota, como é que me deixei levar nesta maré de sentimentos falsos que agora só me provocam angustia, serei eu assim tão superficial que não vi como tu eras na verdade que apenas me guiei pelas tuas palavras e pela tua beleza?